Daniel,eternamente,Daniel (Imortalidade é dádiva dos bons) (Fabião)

Daniel,eternamente,Daniel  (Imortalidade é dádiva dos bons) (Fabião)
Daniel, eternamente, Daniel!! Amor sincero é imortal, doação é imortal, coração...é imortal! Seu dom é imortal, perseverança é imortal, compaixão é imortal, bondade é imortal, meu amigo Daniel... é transcendental! Astronauta da arte! Poeta dos astros! Andarilho das estrelas... estrela do teatro! Ser cósmico da arte... Artista do cosmo! Que agora faz a mais bela das viagens, aquela que é a mais mágica de todas e quando chegar a minha hora ele me mostrará todas as maravilhas... por que acima de tudo ele é: AMIGO!!! (Fabião)

Tradutor

Dossiê Prosa Pública 2021


 

Dossiê PROSA PÚBLICA 2021



(Toca a campainha) - Quem é? 


Prosa Pública -  Uma rede viva de diálogo colaborativo

Em 2019, na 4a. edição do FETEG - Festival de Teatro de Guaranésia, nós da CEP (Comissão crítico estético pedagógica) convidamos os participantes do festival para, no último dia deste, participar de uma atividade no formato de um fórum de debate sobre alguns temas relevantes para o fazer artístico teatral daquele grupo de pessoas, bem como temas que pudessem ter despontado durante o próprio festival enquanto urgências a serem debatidas! Essa atividade ganhou o nome de Fórum: o fazer teatral e as artes da cena como exercício crítico, político e social e foi inspirada no modelo do Café Mundial (World Café), uma metodologia para um processo criativo que visa gerar e fomentar diálogos entre os indivíduos, a partir daí criando uma rede viva de diálogo colaborativo que acessa e aproveita a inteligência coletiva para responder questões de grande relevância para organizações e comunidades específicas.


Um modo de realizar no contexto da pandemia

A partir do momento em que o FETEG 5o. Ato precisou ser cancelado devido às medidas sanitárias para enfrentamento da pandemia de Covid-19, começamos, em parceria com a direção do festival, vislumbrar e elaborar um modo de realizar alguma ação virtual que pudesse manter conectadas todas as pessoas envolvidas profissional e afetivamente com o festival, incluindo os grupos que já haviam sido selecionados para apresentar seus trabalhos nesta edição, que aconteceria no mês de abril de 2020. Por diversos motivos, que vão desde dificuldades financeiras e emocionais decorrentes do próprio contexto de pandemia em curso, essa ação que começamos a projetar em meados de 2020 só se realizou efetivamente, no encontro com artistes e público convidades via chamamento nas redes sociais, agora em janeiro de 2021.

O fórum realizado no 4o. ato foi, dentre as tantas ações que compõem a programação do festival, a ação que nos pareceu mais pertinente de ser realizada neste encontro em formato online, pois proporciona um espaço de encontro sensível e de troca de experiências, pensamentos e saberes entre todes participantes. Nosso desafio foi elaborar a transposição de uma experiência que havia sido muito proveitosa e prazerosa em 2019 para o espaço de certa forma mais restritivo das telas e casas de cada artista envolvide.

- Bom dia! Aceita um café? 

Metodologia - O “Café Mundial”

A metodologia do Café Mundial divide o debate geral de um grupo maior de pessoas em grupos menores para conversar sobre temas específicos num espaço e tempo pré definidos, e cria um rodízio de todas as pessoas por todos esses espaços, a fim de que cada pessoa possa contribuir com o debate sobre cada um dos temas. Ainda, para cada um dos temas que serão debatidos, é escolhido dentre o grupo de pessoas que compõem a discussão, alguém que fará o relato do que está sendo debatido por todes, criando um relato que dê conta de expressar a voz da coletividade que está compondo o debate e criando algo a partir deste. Ao final, depois do rodízio se completar e todas as pessoas terem passado por todos os espaços e temas, os grupos que haviam se criado pela divisão do coletivo inteiro se reúne novamente para a leitura dos relatos elaborados e para a finalização do debate geral.


Metodologia - O “Café  Mundial”  no ambiente digital

Transportamos essa metodologia do Café Mundial para a plataforma Zoom, onde pudemos criar salas para direcionar as pessoas divididas aleatoriamente e rodiziá-las entre cada sala e tema específico.

Por sua vez, os temas foram elaborados por nós a partir de profundas discussões prévias sobre o que estava latente em nossos pensamentos e experiências durante o período da pandemia e como esta tem atravessado nossas produções artísticas ou a suspensão delas, assuntos estes que imaginávamos serem urgentes também para outres artistas, artistas envolvides com o FETEG, forçosamente suspenso desde 2020. Escolhemos três assuntos para debatermos coletivamente e deixamos o espaço de um quarto tema em aberto para ser escolhido - no primeiro dia do fórum - a partir de um jogo/discussão entre todes envolvides, pois acreditamos que nós, enquanto um pequeno grupo de seis integrantes, temos algumas urgências a debater que podem deixar de fora outras urgências que um grupo maior e mais diverso de pessoas pode apresentar.


  • Fome danada! O que tem pra comer? 


ACEPIPES PRA PROSA - disparos nossos 

 Na prosa com 6 pessoas, a CEP percebeu que apesar de todas as distinções e individuações dentro do coletivo (formações, trajetórias, representatividades e territórios) compartilhava aflições e angústias similares, recorrências inquietantes geradas pela pandemia e pelo abandono político que vivemos atualmente no Brasil. A condição de se fazer artista e trabalhador/a/e da cultura nestas terras sempre foi tarefa árdua e de persistência/ resistência. Neste momento, a urgência de pensar nosso ofício se tornou diária e muitas interrogações brotaram da impossibilidade do encontro e da presencialidade. Das combinações, cruzamentos e multiplicações das perguntas percebemos um trio guia-guarnição de caminhos: o corpo, a produção/ pesquisa de linguagens e o porvir vislumbrado nas artes cênicas. A partir de cada apoio deste tripé destrinchamos os eixos propostos como acepipes convidativos postos à mesa pra PROSA se desenrolar. Da saudade dos encontros e das forças afetivas dos territórios de Guaranésia que acolhem o FETEG, veio o fio narrativo que alinhavou e intitulou os temas de discussão (Alojamento, Estação, Praça), sendo assim:


ALOJAMENTO: corpo em risco e próteses contemporâneas

Lembra como seu corpo estava no fim de março de 2020? E agora, como está sua coluna? A dilatação de sua pupila? E estas próteses aí? Essas sobreposição de telas potencializa ou paralisa? Qual a sensação de volume do seu corpo, cabe nesse enquadramento? O que aloja aí? Espaço-tempo multiplicado? Como responderia estas mesmas perguntas a respeito do seu corpo em cena? 


ESTAÇÃO/ ESPAÇO ALTERNATIVO: produção e pesquisa cênica (trans)pandêmica

E aí, que teatro é possível agora? Isso ainda se chama teatro? Qual intersecção e convocação de outras linguagens? Quais saídas e descobertas? É teatro de rede ou teatro na rede? 


PRAÇA: inventário para o amanhã

No seu inventário pandêmico, o que do teatro você quer preservar? O que abandonar? O que inventar? Quais afetos e potências têm sido tecidas? Quais as práticas coletivas nessa pólis? Quais experiências singulares nessa praça?


EIXO COLETIVO - o que falta na mesa? - CANTINA / NUTRIÇÃO - atravessamentos e revolução do feminino na cena

Partindo destes três eixos, convidamos artistas inscrites na ação para trazerem também seu petisco pra mesa, para que coletivamente escolhessem e nomeassem então o quarto eixo. Depois de algumas horas de discussão, o assunto eleito para debate foi:

Atravessamentos e revoluções na produção cênica e discursiva. Mulheres e suas lutas/ conquistas por espaços e pautas. Ressurgência. Escuta e denúncia! O imaginário hegemônico partido pelos binarismos de gênero: voltamos pra terra? Oposição e complementariedade. Preenchimento do não óbvio. A interseccionalidade de pautas: mulheres, racialidades, sexualidades, classismos. As tecnologias hegemônicas naturalizadas + o teatro produzido pela web + a acessibilidade à linguagem + etc 



  • Mais um dedo de prosa? 

  • Uma pinga por favor.

  • Essa é da casa !


No debate que aconteceu no espaço do ALOJAMENTO sobre o corpo em risco e as próteses contemporâneas, as falas, e muitas delas vinham em tom de perguntas mais do que afirmações, apontaram para um campo aberto entre as novas possibilidades de cuidados pessoais (o comer melhor e na hora que dá fome, ao invés de comer o que dá pra comer rapidinho e na hora em que sobra um tempo); a revisão de uma vida atribulada pela cobrança e/ou necessidade impostas de uma produção constante; os mal estares causados no corpo pela impossibilidade do mover-se livremente, e o impedimento, em grande medida, da continuidade das pesquisas artísticas (claramente percebidas aqui como alimento que gera saúde para o corpo e a mente). Ao mesmo tempo, e a despeito das nossas expectativas sobre o que apontaria na discussão, percebemos o quanto tem sido difícil percebermos e compartilharmos o que tem afetado específica e profundamente os nossos corpos, perceber com nitidez e dizer sobre como os nossos corpos têm estado qualitativamente e que novos estados físicos (musculares, ósseos, flúidos, que novos volumes, que novos olhos e ouvidos…) têm se criado em nós com essas imposições aos nossos movimentos e ao encontro físico com outras pessoas. Saímos desse debate com a necessidade de treinar mais a nossa percepção de nosso corpo, a fim de estarmos conscientes e sermos mais capazes de fazer escolhas que nos potencialize, bem como ao nosso fazer artístico. 


Na ESTAÇÃO, a princípio parecia que as perguntas disparadoras lançadas pela CEP lançavam luz sobre o que se produziu e se descobriu, reposicionou nas artes cênicas. No entanto, a força do debate nos encaminhou para a interrogação da interrogação. Porque estamos indagando sobre produção e descobertas? Porque na travessia de uma pandemia temos de ser produtivos ou producentes? Porque teríamos de tirar algum aprendizado ou transformação? Porque não se pode apenas parar, respirar (sobreviver a asfixia!) e viver tantos lutos. A luta cessa, a energia esgota, o susto chega e antes de qualquer reação é preciso vivê-las ou melhor, não chamemos isso de antes vislumbrando uma sequência. aceitemos e vivamos o presente. Será? É. Foi. Respira - enquanto há oxigênio. Mais do que passagem, a estação pode ser estadia e presença. 



Na CANTINA, a polêmica comeu solta. Porque justamente este espaço para dar nome à conversa que colocaria as mulheres em foco? "Mas é uma honra significar o ser que nutre a sociedade". Porém a coisa nos parece não tão simples assim. Qual é mesmo o reconhecimento dado a esse serviço básico (ou essencial, como temos dito tanto nesses tempos de pandemia)? Amar e servir: tarefas definidas como essencialmente femininas… Isso não parece cristão demais? Romântico demais? Submisso demais? Estratagema do patriarcado, da colonização e da escravatura? Alimento bélico, a cantina rasgou nosso debate deixando muito mais perguntas que respostas. Sobre e sob as discursividades hegemônicas, nos perguntamos sobre os binarismos e dicotomias, a dialética pura (e talvez eterna) entre natureza e cultura. Como cuidamos e revisamos continuamente nossas palavras, imaginários, linguagens, gestos e proliferações mundo afora para que não fortaleçam o estado de coisas que oprimem e violentam existências? 

No outro extremo falamos sobre denúncia, sobre anunciar e evidenciar estruturas violentas. Como confiar no processo artístico quando se tem um corpo socialmente compreendido como ‘assediável’ dentro da sala de ensaio? Nos perguntamos sobre os cancelamentos na vida virtual e sua efetividade de ação transformadora, ou apenas expositiva e punitivista, já que a memória das redes é pueril e se refaz a cada novo post. Mesmo os prints ainda não geram histórico, ou melhor, reparação histórica. Será? Também nos perguntamos em que medida punição e vigilância são operações do reino patriarcal, perpetuação da lógica opressora sem poder de revolução. E enquanto isso, as interrogações caminhavam sempre atentas à eterna função pedagógica, cuidadosa e zelosa destinada às mulheres de ensinar, ter paciência, sensibilidade, acolher o erro, maternar as homices, mas com fé na mudança. Eis que uma delas grita: "Aqui não! Quero ser uma mulher que usa furadeira, conserta chuveiro!" As teias invisíveis que nos emaranham, tão fortemente tecidas por longos séculos de construção da 'civilização' sobre a terra, estão bem amarradas e buscando capturar a humanidade em nós, por mais que esta tente escapar pelas frestas de nossas carnes rígidas. Saímos dessa conversa com a certeza da necessidade da espreita, do olhar atento e da percepção de nossas produções e ações no caminho de buscar a liberdade, a reparação e a equidade. Atentas e fortes! 


Na PRAÇA, o inventário para o amanhã começa com a reflexão do como está o nosso hoje. Existe claramente uma dicotomia entre “o que se fazer agora?" versus “Precisamos fazer agora?”. Uma parte compreende que o caminho é fundir radicalmente o teatro com outras mídias, outros acreditam que a “presença” será um artigo de luxo, tem aqueles que pensam no quanto esse momento foi importante para se conectar, com o próprio corpo, com o outro, com os outroS, com a rede e com o planeta. Existe um consenso que a humanidade vai mudar, que ela não será como antes. E nessa nova sociedade, nesse novo teatro, nessa praça… Em nossa praça algumas sementes foram plantadas e elas são fundamentais para uma colheita mais fértil: Ressignificar a própria ideia da cena e suas formas de produção, o toque, a música, a presença, o jogo. Outros jogos. Há uma esperança de que esse corpo enclausurado por tanto tempo possa aquecer, inflamar e reverberar uma nova relação. “Nada substitui a presença”. Há um chamado ao comparecimento. Essa existência certamente ressignificada… Curada. Curada? Essa existência que antes cabia apenas em si mesma, parece que vai expandir… Pela rede, com a rede…  em rede… Para dentro de si e para o mundo. 


Quando a prosa é boa, o tempo voa. 

Agradecemos pela preferência!


CEP (comissão crítico estético pedagógica):

Adryana Ryal (atriz e diretora - Juiz de Fora, MG)

Carolina Callegaro (artista da dança - São Paulo, SP)

Gabo M. Barros (dramaturgo e encenador teatral - Rio de Janeiro, RJ)

Giselle Motta (atriz, coreógrafa e educadora - Rio de Janeiro, RJ)

Pedro Stempniewski (ator, diretor, pesquisador em teatro e pedagogo em formação - Guaxupé, MG / São Paulo, SP)

Rodrigo Reis (bacharel em composição e mestre em artes cênicas pelo Instituto de Artes da UNESP - São Paulo, SP)


Produção: Luciana Gomes

Transmissão e Edição: Eduardo Duwal

Design Gráfico: Bruna Emiliano

Coordenação Geral FETEG: Maurinho Máscaras


Realização: Grupo Máscaras

Apoio: Lei Aldir Blanc

Secretaria de Cultura e Turismo do Estado de Minas Gerais

Secretaria Especial de Cultura

Ministério do Turismo


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