"O
que o amanhã trará? Eu sei que tudo é passageiro..." no XV NEPOPÓ!
Por
Saulo Machado
“O que o amanhã trará? Eu sei que tudo é passageiro", é um espetáculo do Grupo Máscaras de Guaranésia - MG. Foi apresentado no dia 8 de junho de 2023, quinta-feira, durante o 15º Festival Nacional de Teatro de São João Nepomuceno, às 21h.
É um experimento cênico que resultou numa inquieta imersão, às vezes constrangedora, sobre a ansiedade e depressão, chamando a atenção do público presente pela inusitada proposta.
Ao entrarmos no espaço cênico não havia cadeiras, o público se despojou ao redor da arena e alguns se permitiram ficar de pé. Para alguns, assim como eu, que já estava se encaminhando para a sexta apresentação do dia, lidava com o desconforto das dores nas costas, mas decidi sentar, o que impactou no feliz desconforto que perpetuou durante o espetáculo, somando ao desconforto trazido pelo ator.
Um único personagem (ou não personagem) em cena. Wemerson Funck, no primeiro momento nos conduz para dentro, para sua atuação. Respiração ofegante, o reconhecimento de suas dores e angústias e o desespero da solidão. Tais dores que o afligem são desdobradas em questionamentos, lamúrios e gritos que são compartilhados com a plateia que se torna cúmplice e inerte a situação, imitando a vida real.
A interpretação que se baseia num trabalho de corpo lindamente executado, traz posições desconfortáveis levando o ator a exaustão, trazendo uma linha teatral do mestre Grotowski, que acreditava na simplicidade cênica, uma conexão direta com a plateia, carnal e psíquica e explorando as potencialidades físicas, tudo isso sendo fruto de muito treinamento.
Os depoimentos reproduzidos foram complementando as formas que o ator concebia em cena. Falas que se tornaram poesias, pois são narradas dentro de um contexto em que o corpo do ator serve como uma ilustração do que está sendo dito.
O espetáculo foi impactante. Ao final quando é pedido para abraçar
quem está ao nosso lado, lembramos de um propósito maior. Não é sobre a
experiência do ator, é uma provocação que é nos feita sobre o nosso papel como
ser humano num país de alto índice de ansiedade (1º no mundo) e depressão. A
transferência de responsabilidade é realizada e nos questionamos até onde nos
importamos e estamos dispostos a enxergar e agir quando o outro está sofrendo."
Saulo
Machado [DRT 0014349/MG] É ator cataguasense radicado em Juiz de Fora. Ao longo de 20 anos
contabiliza mais de 20 peças montadas, em sua maioria com o Grupo Divulgação.
Em 2017, ganhou o prêmio de melhor ator coadjuvante no Festival de Teatro de
Ubá pelo musical Rua 15, com o grupo Quem Sou Eu, e em 2019 recebeu o prêmio de
melhor ator pelo espetáculo A Linha 2 no V Festival de Teatro Comunitário na
cidade histórica de Mariana - MG, sob o comando do Hupokhondría. É formado em
Artes e Design pela UFJF e trabalha com Arte e Educação, Museologia e Curadoria
de arte no Fórum da Cultura/UFJF